terça-feira, 15 de outubro de 2019

O 15 de outubro, as alterações climáticas e a condenação da agricultura




Assinala-se hoje, 2 anos da tragédia ocorrida a 15 de outubro de 2017. Já muito foi dito, escrito e até feito. A catástrofe trouxe heróis, esperança, inovação, renovação e até riqueza... mas só para alguns! Fazendo hoje um balanço de tudo o que aconteceu, será que as coisas levaram o rumo mais certo? Será que se tiraram ilações para o futuro? Será que estamos a fazer alguma coisa para evitar que, uma nova tragédia se repita? Será que apostar em medidas que, apenas preparam as pessoas para uma nova catástrofe, ao invés de procurar medidas para a evitar, é o caminho certo? Pouco ou nada se fala em investigações cerradas em busca da origem dos fogos... E em mais punições/condenações dos incendiários alguém ouvir falar?
Pois é. Talvez não estejamos a ser encaminhados para a direção correta... Desde o início que é tudo feito para "calar tolos", e desculpem-me a expressão, mas infelizmente é verdade. Arderam as suas couves? Tome lá 1000€ para plantar outro cento. E a si, ardeu a sua vinha com mais de 25 anos que só existia porque ainda não tinha tido paciência em tirá-la de lá? Tome lá 1500€ para comprar uns cedros.  Veda melhor e fica mais bonito. Não quer? Não interessa, compre uns sofás novos, é-nos igual. A União Europeia paga! Chegou-se ao ridículo de esbanjar dinheiro. Claro que cada caso é um caso, e paga o justo pelo pecador, mas houve muito boa gente que aproveitou a desgraça alheia... Safa-se sempre o esperto, e fica esquecido o necessitado, é sempre assim... Os "grandes" cresceram ainda mais, tornaram-se fortes, ganharam mais visibilidade e apoio à custa do fogo, os pequenos, que também perderam tudo foram ignorados. Foram-nos oferecidas soluções para nos tapar os olhos. Fomos encostados à parede: ou fazíamos o que eles queriam, com medidas de "escritório" criadas para mostrar trabalho, ou ficavamos por nossa conta. Nós escolhemos a segunda opção. Podemos ter parecido "pobres e mal agradecidos", mas fizemos aquilo que a nossa experiência e consciência acharam melhor. Hoje não podíamos estar mais satisfeitos com a nossa opção. Foi uma luta dura, de muito esforço, mas valeu a pena. A única ajuda que nos foi apresentada sob a forma de projeto, consistia em arrancar todas as árvores queimadas e fazer plantações novas, ou seja, começar do zero. Para os Sr.s Eng. de "secretária" que acham que a agricultura se baseia em fórmulas matemáticas, era uma proposta irrecusável!  Só que não... porque repôr um pomar, não é a mesma coisa que repôr uma oficina, uma fábrica... As árvores não se plantam hoje e começam a produzir amanhã. Não! E não demoram dias, nem meses...são anos! E durante esses anos (3 a 5), é suposto viver-se de quê?!
Compreendo que nada disto venha nos manuais da faculdade e ninguém estava preparado para dar resposta a uma catástrofe desta dimensão, mas arranjar medidas só para mostrar trabalho, não é solução...
Contrariando tudo, decidimos manter os pomares. Não arrancamos uma árvore. Começamos antes, a tentar dar-lhes vida. Todos os 600 pés de mirtilo queimados foram cortados, deixando-os apenas com cerca de 20cm de altura. As macieiras e pêras foram enxertadas. Reinstalamos todo o material de contenção de solo e rega. E o milagre aos poucos foi acontecendo. Este ano já tivemos mirtilos! Sim, pouco mais de 1 ano e meio depois já podemos colher fruto daquelas árvores, que estão grandes e bonitas, longe de parecer que já passaram por tanto! Mostramos que afinal tínhamos razão!
A Natureza é fantástica e está sempre a surpreender-nos. Mostrou-nos que se não desistirmos dela, ela não desiste de nós! Apesar de todas as adversidades, hoje, dia 15, estamos orgulhosos do que conseguimos e acima de tudo por não termos desistido, mesmo que estivéssemos entregues a nós próprios. Ainda há muito a ser feito, mas tudo a seu tempo, retomará a normalidade. 
Continuamos a luta diária, na corrida contra o prejuízo, contra as alterações climáticas e a tentar mudar o destino da agricultura fugindo à sua fatídica condenação. 



Janeiro 2017


Outubro 2017


Maio 2018

Maio 2019

Junho 2019







segunda-feira, 24 de junho de 2019

Cartão de Fidelização




O nosso Cartão de Fidelização surge de forma a premiar os nossos clientes e a confiança que depositam em nós. Não tem qualquer custo e qualquer pessoa, a qualquer momento, pode solicitar.

Funcionamento:
- Na compra de 1kg de Mirtilos, ganha 2 quadrados preenchidos;
- Após o preenchimento de todos os quadrados o último é oferta!

Mantenha-se atento à nossa página de Facebook, vamos ter muitas surpresas!
"Repescagem" de compras antigas, Happy hours... tudo é possível! ;) Não perca pitada! Em breve voltaremos com mais novidades!



segunda-feira, 4 de junho de 2018

o Sol, a ausência dele e os seus pequenos milagres



  O humor do S.Pedro é tão refinado, que bastou instalarmos o sistema de rega para ele nos "mudar" a estação do ano. 😁
 Ora, se no ano passado por esta data já o calor apertava, os mirtilos amadureciam em "contra-relógio" e a apanha já decorria em grande azáfama, este ano a chuva e o frio estão a atrasar e a estragar o fruto. Precisamos sofregamente de sol quentinho! Os amantes de mirtilos já começam a ficar impacientes! 😊
 O sol para além de maturar os frutos, faz outros "milagres" e por isso aguardamos por ele também para nos fazer crescer as plantas.
 Apesar do tempo não estar a ajudar, já são visíveis as transformações que as plantas queimadas foram sofrendo desde o dia fatídico. Infelizmente algumas sucumbiram à força das chamas, outras vão-se reerguendo. Lutando conforme podem, da maneira que podem, como também aqui já falei em relação às macieiras (recordem o post aqui). Mas desta vez quero mostrar-vos os mirtilos.
 A primeira foto mostra o estado em que ficaram as plantas dias após a passagem das chamas. Já a segunda, 1 mês após o incêndio, mostra o terreno depois de cortadas as árvores e do terreno limpo. A última já mostra o resultado final, com a colocação da tela no solo. E foi assim que as plantas aguardaram pela primavera.

       
... E ela chegou. Ainda que tardiamente. E fez milagres! As plantas, na sua maioria, rebentaram e estão a crescer.  Há coisas fantásticas, não há? 😉


 Agora é dar tempo ao tempo. E que o tempo nos traga sol! 😊 


quarta-feira, 23 de maio de 2018

Hora de ligar a Rega!


O calor chegou. E veio em força! Urge assim, a necessidade de adotar algumas medidas. Os terrenos começam a ficar secos e a planta em crescimento pede alimento. Está na hora de ligar a "Rega"!
 O incêndio de Outubro levou quase todo o sistema de rega. Toda a área será alvo de remodelação profunda e quase toda a extensão de tubo vai ser substituída. Foi esta tarefa que iniciámos na semana passada.
  Começámos pelos mirtilos. Depois de substituída toda a extensão de tela (trabalho que já foi feito há uns meses), era necessário passar e esticar o tubo gotejador por baixo dela a todo o comprimento.



 










Seguiram-se os kiwis. Um trabalho bem mais rápido e fácil. O solo está descoberto, não existe tela de contenção, logo, é só esticar o tubo e perfurar.







Espreite o processo de perfuração aqui.
Está quase tudo pronto!
Em breve, novo post com o resultado final e o crescimento das plantas queimadas!
Até lá! 😏





sábado, 5 de maio de 2018

A surpreendente força da Natureza




   A visita à Quinta desta semana pode resumir-se numa palavra: surpreendente!
   E sim, estas duas imagens de macieiras foram registadas nesta visita, no mesmo terreno, no mesmo dia e à mesma hora.
  Desde os incêndios que temos acompanhado com receio, ansiedade e alguma expectativa a transformação - ou ausência dela - por que as árvores queimadas têm passado. O inverno foi longo, o frio persistente e a primavera chegou tímida e por isso, só agora podemos começar a ter percepção de que danos realmente sofreram as árvores.
  As macieiras que escaparam à fúria das chamas estão verdinhas e uma parte delas, até floriu, ainda que de forma escassa.



  São várias as filas em que encontramos imagens como esta. Lado a lado, uma está completamente despida, outra coberta de flores e folhas.
  As árvores despidas estão negras, fazendo contraste com o verde das ervas oportunistas. Olhando para os 2 troncos, parece não haver esperança no do lado direito...

















  Estes ramos queimados, a estalar e aparentemente secos apresentam uma espécie de descamação. Como se estivessem a morrer aos poucos... Ao observarmos este cenário aumenta o receio. Parece estar tudo perdido... Avançamos, e o caso muda de figura.O que encontramos é realmente surpreendente!

  De um lado, um ramo chacinado pelo fogo e com sequelas profundas, de outro, um pequeno rebento de folhas que parece emergido da morte.
  Mas... uma árvore nunca morre! E aí estão elas. Firmes, em pé e agarradas à terra com a mesma força com que se apresentavam antes do incêndio, parecendo travar uma árdua luta pela sobrevivência! Será que este processo é afinal uma "amostra" de vida e não de morte?
 À semelhança do que acontece com a pele humana, parece estar a ocorrer um processo de regeneração, onde as células mortas dão lugar a um novo tecido.
  Continuamos a percorrer o pomar e cada vez a nossa estupefacção foi aumentando.



Como é possível? É a dúvida que nos assalta. A Natureza é realmente impressionante. E não nos convençamos do contrário, porque não há maior força do que a dela.




 Que o ciclo se complete. Que a resposta seja proporcional à investida sofrida. E que a Natureza reage com tanta força como a que foi atingida.
  E é com esta imagem improvável que terminamos a visita à Quinta. Uma imagem de força e esperança!😊









quarta-feira, 18 de abril de 2018

Será que é desta, Primavera?


 Hoje é quarta-feira, a primeira que a Primavera trouxe com sol. Finalmente conseguimos ir à quinta sem escorregar na lama! 😃
 As podas já lá vão. É altura de começarem as grandes transformações nas plantas. As flores mais atrevidas lá foram crescendo e desabrochando a medo, entre o frio e a chuva persistentes. As mais inseguras só agora começam a aparecer. Começa assim o quadro a compôr-se.
 No ano passado, por esta altura já a floração atingira o seu auge. O tempo tinha estado anormalmente quente e seco e a Natureza progrediu precocemente. O Março tinha sido quente, ainda que com picos de frio fora da época, o que trouxe uma significativa perda de produção. Já o Abril trouxe a primeira tragédia do ano - uma queda intensa de granizo, que nos levou mais de 40% da produção. Era o primeiro balde de água fria do ano e faz amanhã (19 de Abril, reveja aqui: Granizo.17 ) precisamente um ano.
 Este ano esperamos que o S.Pedro e os Astros estejam de bem connosco, e que tudo vá decorrendo com a devida normalidade. Para já, ainda não conseguimos perceber o estado real das árvores queimadas, mas a continuar o tempo assim, estará para breve. Será altura de decisões e muito trabalho! Até lá, focamo-nos nas coisas boas que por cá já vão acontecendo.
 As nossas amigas polinizadoras já andam atarefadas. De flor em flor procuram o seu melhor "posto de trabalho" e nós gostamos tanto de as ver trabalhar! 😊 Despedimo-nos com as melhores imagens de hoje.







quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Depois do negro, que venha o verde...

(Continuação...)

O tempo vai passando, vai trazendo o distanciamento necessário para apaziguar as feridas da alma...e da Natureza. Já não é tudo tão negro. Já conseguimos ver o "copo meio cheio" por baixo da metade vazia. Não foi fácil, mas a vida é mesmo assim, e saber ver para além do lado negro é o grande desafio que nos é imposto.
Durante muito tempo, sempre que olhava em redor, nada mais via que o negro: o negro da terra, o negro das árvores, o negro da vida... Nada havia para além do preto. Foi preciso muitos dias volvidos para ver o verde, para perceber que ainda havia esperança.
Naquele dia cumpria mais uma vez a minha rotina. Saía de casa tentando ignorar a paisagem triste que se instalou na noite fatídica e, tentando conter as emoções que aquele cenário me despertava, quando algo me chamou a atenção. Ela estava ali. Desde sempre. Mesmo à minha frente. Mas nunca antes tinha reparado nela. Também ela não escapou, mas não foi totalmente atingida. Ainda exibe algum do seu verde, como que a mostrar-nos que nem tudo está perdido. Não passa de uma árvore, mas foi o suficiente para dar aquele "click" que faltava.



... A vida continuou. E havia tanto para fazer! O problema era saber por onde começar.
Finalmente chegava alguma resposta.  Vieram os técnicos, também sem saber ao que vinham e o que iam encontrar, mas ainda assim, não deixaram de vir mediante nosso pedido.
    Infelizmente não havia respostas. Um cenário como o que encontraram não se prevê, não se aprende a resolver nos bancos da universidade. Recolheram amostras, fotografaram e demonstraram a sua solidariedade. Encorajaram a não desistir, mas não havia nada a fazer. Só a primavera trará as respostas.
     Não nos acrescentaram nada, mas aumentaram-nos a força. Reconheceram o (bom) trabalho de anos que ali fora perdido. Estávamos em novembro... a primavera ainda vinha longe! Não podíamos simplesmente cruzar os braços e esperar. Fizemos contactos, partilhamos/ouvimos experiências idênticas e pusemos "mãos à obra".
     Retiramos as contenções do solo e os sistemas de rega e limpamos as propriedades. Às macieiras e às pereiras, pouco mais havia a fazer. Mas aos mirtilos não esperamos. Todos os afetados foram podados, ou melhor cortados, ficando apenas com o pé com uma altura aproximada de 10 cm.
É um forçar a planta a retroceder 4/5 anos e esperar que vingue, que cresça com força e mantenha a qualidade que até então tinha.
     Foram trabalhos muito complicados, mas concretizaram-se.






Ver tudo limpo, tudo despido...fez tremer o coração... Parecia um autêntico cemitério.




A partir daqui é uma luta diária. Repor aquilo que se perdeu e tratar daquilo que restou.
A primavera aproxima-se... e aguardamos impacientemente. Vai pôr a nu tudo aquilo que o negro encobre. Que traga o verde e que nos acimente a esperança...